O Canto Livre de Nara
1965
Este segundo disco de Nara é um passo adiante no caminho que ela propôs ao lançar seu LP anterior,
intitulado “Opinião”. Caminho que propôs a si e aos demais cantores, como aos compositores e adeptos da música popular brasileira.
Esse caminho, que ela segue conscientemente, acrescenta à sua função de cantora a de intérprete dos problemas e das aspirações de
seu povo. Nara quer levar, na sua voz livre, ao maior número possível de pessoas, uma compreensão atual da realidade brasileira,
que ela sente e identifica nas composições de um Caymmi, de um João do Vale, de um Zé Keti, de um Edu Lobo, de um Vinícius e de
tantos outros.
Nara não vê limite para a sua atuação de cantora. Não se prende a preconceitos nem a formalismos. Ela quer se comunicar do modo
mais franco e mais direto, cantando e discutindo, dialogando com o público. O show “Opinião” – em que ela atuou com Zé Keti e João
do Vale e que foi o último grande sucesso da temporada teatral no Rio – não teve por acaso o mesmo título do seu LP anterior: o show
foi fruto desse mesmo movimento de nossa música popular, que se amplia para se expressar os sentimentos coletivos. “Mais que nunca,
é preciso cantar”. Cantar o amor e a vida, o amor que é de todos como a vida. Cantar a solidariedade, a paz e a liberdade. Nara
descobriu que é possível e que é preciso tornar realidade a idéia de que todos os homens são iguais, e que, como cantora, ela pode
contribuir para isso. E Nara contribui para isso tanto quando canta o sofrimento do lavrador sem terra, como quando interpreta um
velho samba de amor. Pois, ao aproximar esses temas aparentemente tão distantes, ela nos ensina, com a sabedoria de sua mocidade,
que amor, paz, trabalho e liberdade são sinônimos de vida.
Ferreira Gullar